...

Os pactos necessários para o setor da saúde em 2024

Imagem de 8photo no Freepik

COMPARTILHE COM SEU TIME

Share on facebook
Share on linkedin
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on email

Por Tacyra Valois

 

Defendemos que a solução para os desafios atuais do nosso sistema de saúde requer firmar um Pacto de Sustentabilidade para promover transformações através de uma gestão profissionalizada. As lideranças devem utilizar dados e análises em tempo real para uma tomada de decisão mais assertiva, utilizando também ferramentas de Governança Clínica complementar à governança coorporativa, conceitos de ESG, atitudes e posicionamento Compliance, uso inteligente e responsável dos recursos da saúde. Defendemos também que é urgente encontrar um meio termo entre os interesses de mercado e os princípios do SUS (Participativo/Inclusivo). Ambos hoje, setor público e setor privado, não estão conseguindo entregar pelo esgotamento do Modelo-ineficiente, judicializado, “politizado” e heterogêneo na gestão.

A jornada de mudanças precisa estar pautada em indicadores de sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro. Como medida urgente, incluímos um novo modelo de assistência no qual inclua explorar a saúde digital como ferramenta não somente para ampliar acesso, mas também para profissionalizar a gestão; ao tempo que precisamos enfrentar definitivamente os desperdícios e o modelo de remuneração e incentivos, uma agenda que é um consenso entre notáveis estudiosos.

Uma agenda com objetivo não somente de ampliar o investimento, mas, agir urgente sobre a revisão do Custo Brasil num compromisso que inclui, mas não se resume, as taxações e impostos como impactante e decisivo custo oculto que pressiona a operação do ecossistema da saúde. Consideramos também uma proposta para aperfeiçoar a utilização dos impostos pagos pelos brasileiros. Hoje, ao fechar a conta, a nação paga duas vezes pelo “direito” ao acesso à saúde: uma por meio do pagamento dos impostos e a segunda quando “faz a opção” pelo pagamento de um plano de saúde para garantir a segurança das suas famílias e/ou dos seus funcionários. Nessa lógica, a cada reajuste anual, precisa optar por reduzir o padrão dos planos contratados para conseguir equacionar a conta necessidade x custo.

Pensando no Pacto de Sustentabilidade como saída para os entraves do setor, as partes interessadas devem se despir das ideologias e certezas intransponíveis que carregam para fortalecer os laços de confiança, transparência e cooperação entre setor público e privado e decisões legislativas e regulatórias. Dessa forma, podem garantir acesso à saúde de qualidade para todos os brasileiros e consolidar definitivamente o nosso sistema nacional de saúde.

É consenso que o sistema de saúde atual não entrega para a sociedade o que ela necessita. Mas, como está o desenvolvimento das reformas estruturantes que o sistema de saúde precisa para ser mais sustentável, acessível e integrado? Estamos criando um modelo que introduza governança, eficiência e promova a governança centrada na necessidade do usuário e nos desafios contemporâneos no mundo pós-pandemia? Como o sistema sustentará o incremento de custos para se manter em funcionamento?

O mundo está saindo da maior crise sanitária da história recente da humanidade. Sistemas de saúde de todos os países foram colocados à prova e, no Brasil, a capacidade de resposta do SUS frente aos inúmeros problemas que surgiram no enfrentamento à pandemia evidenciou a importância de ações planejadas, integradas e o impacto que as decisões governamentais, das três esferas de governo, reflete no dia a dia das pessoas.

Não é novidade que o sistema de saúde brasileiro vive uma grande crise de sustentabilidade. De um lado, o subfinanciamento da saúde pública, de outro, uma baixa remuneração pela prestação de serviços privados, somada a uma alta carga tributária com reflexos econômicos inimagináveis. Para os planos de saúde não é diferente: em 2022, registraram um prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões, segundo a ANS, ao tempo que lideram as reclamações de consumidores segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Assistimos a um setor da saúde privada que não cresce e não consegue ter definido o seu real papel e limites no sistema nacional de saúde. E segue sem fazer as reformas estruturantes necessárias. Suportar esta crise econômica e de confiança no setor, exige novos modelos de enfrentamento, e podemos nos inspirar no que já existe em outros setores, a exemplo de uma Câmara de Negociação.

E não para por aí, o sistema também suporta um número excessivo de decisões judiciais e determinações legislativas que influenciam diretamente nos custos da saúde. Infelizmente, não há uma visão sistêmica e não há uma pré-avaliação dos impactos dessas medidas legislativas e judiciais no funcionamento e na sustentabilidade.

Com o objetivo de minimizar a judicialização, algumas iniciativas estão sendo adotadas no país. Um bom exemplo que começou em Brasília e já se estende para outras localidades são as Câmaras de Mediação em Saúde, que atuam extrajudicialmente com o apoio da Defensoria Pública e objetivam propor solução para o impasse antes do ingresso da ação judicial. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Câmara de Resolução de Litígios de Saúde (CRLS), uma iniciativa da Procuradoria Geral do Estado (PGE-RJ) em parceria com as Defensorias Públicas do Estado e da União e as secretarias estadual e municipal de Saúde, registrou um índice de 68% de resolução administrativa extrajudicial dos casos em 2019.

No Legislativo, destacamos dez tramitações que avançam na Câmara dos Deputados e tendem a se manter na pauta:

· Reforma tributária;
· Alterações na regulamentação dos planos de saúde;
· Saúde digital, prontuário eletrônico, integração de dados no SUS;
· Pesquisas clínicas;
· Regulamentação da venda de medicamentos em supermercados;
· Realização de testes laboratoriais em farmácias;
· Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer no SUS;
· Regulamentação do uso e plantio medicinal do Cannabis;
· Regulamentação dos cigarros eletrônicos;
· Pisos salariais.

A discussão destas reformas não pode ser de forma dogmática, deve visar a construção de uma jornada de mudanças realmente estruturantes. Todos os elos que compõem a cadeia produtiva e econômica da saúde, estão insatisfeitos e clamam por mudanças que levem a um sistema mais justo, acessível, integrado, perene e sustentável.

O Propósito do Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde (CBEXs) é impulsionar estas mudanças no sistema de saúde através da formação de liderança com novo modelo mental nestas agendas transformacionais, e com capacidade de diálogo com as diferentes partes interessadas. Executivos em saúde comprometidos com a vida humana, com a ciência, com a qualidade da assistência, com políticas para maior acesso da população, com o uso racional dos recursos para a saúde. O papel do CBEXs na formação deste novo gestor de saúde é fomentar uma nova cultura para que as tomadas de decisão sejam baseadas em ações responsáveis e pautadas em compromissos e entregas sustentáveis e perenes para o setor da saúde, seja público ou privado.

 

Tacyra Valois é CEO do CBEXs – Colégio Brasileiro dos Executivos em Saúde

 

* A opinião manifestada é de responsabilidade da autora e não é, necessariamente, a opinião do IES

0 0 votos
Classificar Artigo
Se inscrever
Notificar de
0 Comentários
mais antigo
O mais novo mais votado
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários