A Ética e a Razão de Aristóteles

Por Patrícia Braile

Um dia desses recebi um telefonema. Na verdade, um convite!

– Patrícia, você pode escrever um texto para o blog que vamos criar?

Do outro lado da linha era o diretor executivo do Instituto Ética Saúde, instituto do qual tenho a felicidade de fazer parte do Conselho de Administração desde 2020.

– Sim, respondi prontamente! Sim, posso sim. Obrigada pelo convite!

Senti “borboletas no estômago”, mas não poderia dizer não. Eu sabia que escrever me traria lembranças, boas e ruins. E não poderia ser diferente.

Afinal, ser convidada para escrever e apresentar este projeto novo, em especial, dentro da instituição em que a missão maior narra a essência daquilo que tenho como filosofia de vida, me emocionou e alegrou o coração.

Desligamos e os pensamentos começaram a revirar minha cabeça…sobre o que vou escrever? Vou falar sobre transparência, sobre impunidade, sobre o paciente, compliance, corrupção? Sobre o que escrever?

Sentei-me, olhei para a tela em branco de meu computador e meus pensamentos me levaram para anos atrás, quando comecei a conhecer todo este infinito universo chamado Filosofia.

Lá fui eu, percorrer, mais uma vez, as “escavações” da Grécia Antiga escondidas em minha memória.

Há mais de 2.500 anos, Aristóteles dizia que a busca do ser humano é a busca pela felicidade. E a conquista da felicidade, (não nos enganemos), envolve esforços, hábitos, superações e limites.

Para encontrar a felicidade é preciso conhecer a essência. Ir fundo naquilo que realmente é relevante. E a Ética é isto: a busca da essência de tudo aquilo que fazemos.

A Ética não é apenas um código de condutas (tão falado e esvaziado), mas é, antes de tudo, voltar nossas atitudes cotidianas para o bem.

Pois é, viver com Ética é viver o hábito do agir para o bem, para o bom, para o justo. É nos habituarmos a escolher o que é certo. Avida não é um vale tudo.

Há 30 anos, vivo o dia a dia da saúde no Brasil. Trabalho em uma indústria brasileira de dispositivos médicos e já vi do melhor ao pior durante estes longos anos.

Em 2015, meu pequeno mundo estava por desabar. Eu buscava uma razão para continuar meu trabalho, para ter esperança e não desistir de acreditar em um Brasil com mais justiça, honestidade e empatia na Saúde.

E foi justamente aí que o Instituto Ética Saúde entrou em minha vida.

Respiro, fecho os olhos. A lembrança destes dias não é fácil. A essência usurpadora dos oportunistas causa dor naqueles que acreditam e tentam viver o amor ao próximo, o respeito a vida e a dignidade do doente. A falta de transparência, integridade e Ética na saúde são causas de muito sofrimento, seja para àqueles que lutam por um setor mais íntegro, por relações honestas no meio empresarial, seja pelo fato de pensar que milhares de pacientes deixam de receber um tratamento adequado e justo.

Costumo dizer que a corrupção na saúde mata. E mata, literalmente!

Suspiro e continuo a escrever meu texto.

Foi no Instituto Ética Saúde que encontrei a razão que eu procurava. Lá minha luta era (e é) a luta de todos, o meu sonho era (e é) o sonho de todos, e lá nosso sonho ganha voz, eco e ganha vida em nossas atitudes.

No Instituto Ética Saúde, (nosso IES), Integridade, Sensibilização e Educação, Transparência e Legalidade são os guias de nosso trabalho, são os nossos pilares.

Acreditamos que promover, difundir, consolidar a cultura ética e valorizar a transparência garantem a segurança ao paciente.

E é a saúde do paciente nossa missão, nossa razão de existir! É para eles e por eles, por suas vidas que não desistimos.

Sabemos da dificuldade, não somos ingênuos, mudanças culturais são lentas, quebras de paradigma são complexas, mas, se não nós, quem? Se não agora, quando?

Somos formiguinhas, sim, sabemos que somos, mas somos um exército gigantesco delas!

Olho novamente para a tela do computador e, sinceramente, uma lágrima escorre por meu rosto.

Sou feliz.

Aristóteles tem razão.

Empresaria, Advogada e professora. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito da USP (1986) e mestrado em Direito pela PUC-SP (2005). Atualmente é presidente executiva – Braile Biomédica Indústria Comércio e Representações. Vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde. Conselheira Emérita do Instituto Capitalismo Consciente. Diretora da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria e equipamentos médicos, odontológicos, hospitalares e de laboratórios). Membro do Conselho de Administração da ABRAIDI (Associação brasileira de importadora e distribuidores de produtos para saúde). Membro do conselho da CIESP. Conselheira do serviço social da indústria CESI e SENAI. Diretora do conselho da mulher empresária e empreendedora (CMEE) da ACIRP.

* A opinião manifestada é de responsabilidade do autor e não é, necessariamente, a opinião do IES.