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A comunicação não violenta pode mudar as relações no setor da saúde

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por José Roberto Luchetti

A Comunicação Não Violenta (CNV) foi desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg na década de 1960, como uma abordagem para resolver conflitos e melhorar a qualidade das interações humanas. Rosenberg, influenciado pela educação humanista do também psicólogo norte-americano, Carl Rogers, e pela sua própria experiência de vida em ambientes marcados por racismo e violência, buscou uma forma de comunicação que promovesse empatia, compaixão e cooperação.

A CNV surgiu como uma resposta às formas de comunicação baseadas em julgamento, críticas e culpa, que, segundo Rosenberg, contribuem para a violência e a desconexão entre as pessoas. A proposta de Rosenberg era criar uma metodologia que facilitasse a resolução pacífica de conflitos, promovendo um diálogo mais empático e assertivo.

A abordagem da CNV tem quatro componentes centrais: a observação, com descrição dos fatos de forma objetiva e sem julgamentos; os sentimentos, onde expressamos como nos sentimos em relação ao que observamos; as necessidades para identificarmos quais estão por trás dos sentimentos; e os pedidos que devem ser claros e específicos para atender a essas necessidades.

A CNV se tornou uma prática difundida globalmente e é utilizada em diversas áreas, como mediação de conflitos, educação, terapias, ambientes de trabalho, e até em questões políticas e sociais. Por se tratar de prática tão ampla, não poderia deixar de contemplar a ética, que norteia os princípios e valores que orientam o comportamento humano. A ética busca entender e refletir sobre como devemos agir, o que devemos fazer e que tipo de pessoa devemos nos tornar, com base em normas, valores e virtudes morais, nada poderia ter tanta conexão com a CNV.

Mas você deve estar se perguntando, o que isso tem a ver com o setor de saúde? Tudo, já que esse segmento, como muitos outros, ainda precisa aprimorar a comunicação. Exemplifico: recentemente um amigo abriu um exame de ressonância parametrizada da próstata e estava escrito: “detecção de neoplasia prostática clinicamente significante”. A pessoa entrou em estresse imaginando que estava com câncer na próstata e, até conseguir conversar com o médico, foram horas de tensão. O resultado do exame não tinha constatado nenhum câncer, segundo o urologista, o que estava escrito era somente que aquele exame era para diagnosticar ou não uma “neoplasia prostática”, que no caso do meu amigo era inexistente.

Qual paciente não abre os próprios exames e ainda busca no Google ou no ChatGPT informações sobre os resultados antes da consulta médica? A grande

maioria, não é? Então, os laudos laboratoriais precisam também comunicar os pacientes de forma não violenta, com empatia e compaixão, e não somente de forma técnica. É possível conciliar ambas as situações e ajustar a linguagem. Assim como um médico precisa ter esses mesmos princípios éticos ao conversar com os pacientes em consultório; e também os empresários do setor de saúde necessitam dialogar sobre problemas estruturais na saúde pública e na privada.

Há mais de uma década ouço que empresas enfrentam distorções setoriais como retenções de faturamento, glosas injustificadas, inadimplência, entre outros, mas vejo pouco os executivos de operadoras de saúde, hospitais, médicos, fabricantes e importadores de produtos se sentarem à mesa para efetivamente solucionar os problemas sem apontar culpados, criticar sem nada propositivo ou julgar quem está do outro lado. Como no ditado popular: na briga entre elefantes quem sofre é a grama, ou seja, o paciente, parte mais vulnerável por estar fragilizado por uma doença, é quem paga a conta.

Precisamos nos demover da lógica de que alguém só consegue o que quer na base da imposição, seja pela força do poder econômico ou pela necessidade pontual de abrir mão por qualquer interesse. Não se chega a lugar algum sustentável sem a busca efetiva por resultados de benefício mútuo, onde empatia, compaixão e cooperação podem dar um novo sentido para os acordos, que terão efetivamente que permear princípios éticos. A CNV é uma forma de aplicar e demonstrar a nossa ética no dia a dia.

 

PALAVRAS SÃO JANELAS (OU SÃO PAREDES)

Composição de Ruth Bebermeyer

Sinto-me tão condenada por suas palavras,

Tão julgada e dispensada.

Antes de ir, preciso saber:

Foi isso que você quis dizer?

Antes que eu me levante em minha defesa,

Antes que eu fale com mágoa ou medo,

Antes que eu erga aquela muralha de palavras,

Responda: eu realmente ouvi isso?

Palavras são janelas ou são paredes.

Elas nos condenam ou nos libertam.

Quando eu falar e quando eu ouvir,

Que a luz do amor brilhe através de mim.

Há coisas que preciso dizer,

Coisas que significam muito para mim.

Se minhas palavras não forem claras,

Você me ajudará a me libertar?

Se pareci menosprezar você,

Se você sentiu que não me importei,

Tente escutar por entre as minhas palavras

Os sentimentos que compartilhamos.

 

 

José Roberto Luchetti é jornalista e escritor, sócio da DOC Press e autor de “O Médico e o Jornalista” da editora Doc

* A opinião manifestada é de responsabilidade dos autores e não é, necessariamente, a opinião do IES

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Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
1 de novembro de 2024 20:27

Estamos longe disso, ainda… infelizmente!