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O ensino da integridade na graduação e seu efeito como transformador social

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Por Lícia Valadares

 

Integridade é um conceito que se relaciona a ética, transparência e honestidade. É comum, no ambiente corporativo, que os termos governança, sustentabilidade e integridade apareçam nos sites organizacionais e nas falas dos gestores. No âmbito universitário, entretanto, elas se apresentam de maneira mais discreta nos discursos institucionais. A integridade acadêmica é um grande desafio da educação superior, pois evidencia a necessidade de fazer os estudantes se perceberem como sujeitos produtores de novos conhecimentos e de transformação social. A questão que norteia este texto é: como é possível preparar o aluno da graduação de modo que ele ingresse e atue com integridade no mercado de trabalho?

Na universidade, a integridade é abordada, prioritariamente, no contexto das disciplinas que tratam de Metodologia Científica, nas quais se pretende ensinar ao aluno sobre a importância de produção de dados e textos autênticos, sem plágio e sem manipulação de dados.  Outros aspectos abordados são o estabelecimento correto de autoria e coautoria, bem como o respeito às normas relativas aos direitos autorais. Entretanto, as recentes ferramentas tecnológicas, como o ChatGPT e o Bard, facilitam práticas de fraude na produção de textos científicos. Um outro aspecto é que, muitas vezes, a pressão por preparar um currículo encorpado faz com que docentes e discentes priorizem a quantidade de trabalhos em detrimento de sua qualidade. Apesar de válida, esta abordagem universitária mais direcionada à integridade científica traz à tona duas lacunas que, uma vez identificadas pelos gestores, devem ser preenchidas.

A primeira é que se faz necessário ser íntegro quando se pretende ensinar integridade aos alunos. Para que isso ocorra, é premissa básica que haja um canal de comunicação facilmente acessível e seguro por meio do qual toda a comunidade acadêmica possa se fazer ouvida e acolhida e, ainda, que permita o compartilhamento de boas práticas, sejam elas científicas ou não, que se relacionem à integridade acadêmica. Somente assim, o caminho rumo à integridade poderá ser percorrido com passos firmes.

A segunda é que, mais importante do que falar de integridade científica nas aulas de metodologia, é abordar, de maneira horizontal na grade curricular, discussões acerca deste tema não apenas no contexto da produção científica, mas, também, nas relações interpessoais, na prática profissional diária, na divulgação de informações e na interação com todos os atores envolvidos, sejam eles gestores, professores, alunos, fornecedores e toda a sociedade. Os professores têm grande responsabilidade neste processo, e suas condutas costumam ser incorporadas pelos estudantes como elemento de aprendizado. A integridade, portanto, não deve ser vista como um mero conceito a ser trabalhado em sala de aula, mas como um valor que a universidade deve entregar para a sociedade em forma de profissionais aptos a transformarem seus ambientes de trabalho em espaços onde o aprendizado e a colaboração sejam sempre bem-vindos e onde a fraude e a corrupção jamais possam entrar.

Há que se ponderar, também, a importância crucial que os gestores universitários têm no fomento ao ensino da integridade na graduação. Neste contexto, eles devem direcionar esforços no sentido de capacitar o corpo docente e todas as camadas de liderança nesta pauta tão relevante para a formação acadêmica. Somente assim os alunos, vivendo e experimentando a integridade no dia-a-dia, poderão compreender que não se trata de um discurso retórico, mas de uma prática que poderá transformar o mercado de trabalho e, quiçá o mundo, em um espaço mais honesto e seguro para se viver.

É importante considerar que a educação é o meio mais transformador quando se aspira a boas práticas. A associação entre teoria e prática no ensino da integridade é fundamental, devendo este tema ser inserido de maneira precoce e horizontal no currículo para que o aluno, em seu processo de aprendizagem contínua, possa se preparar para o mercado de trabalho. A adoção de práticas andragógicas sobre este tema no currículo dos cursos de graduação permite a formação de uma cultura da integridade, ou seja, insere valores na prática cotidiana a tal ponto que o respeito ocorra de forma espontânea e o desrespeito produza reprovação imediata. Já os gestores educacionais devem desestimular práticas desonestas, inclusive com ações punitivas, e estimular medidas educacionais preventivas que disseminem boas práticas de integridade e investiguem denúncias de má conduta.

A integridade é uma linha que costura a ética e a honestidade no tecido que forma a universidade, tornando-o resistente o suficiente para suportar pequenos rasgos causados por desvios de conduta. Aos professores, alunos e gestores, cabe garantir que o estoque desta linha nunca esteja zerado.

 

Lícia Valadares é médica, Mestre e Docente em Gestão em Saúde.

 

* A opinião manifestada é de responsabilidade da autora e não é, necessariamente, a opinião do IES

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Marcos Sousa
16 de maio de 2024 13:05

Parabéns!!! Excelente!!!