Por Edson Vismona
A civilização foi forjada em um processo de evolução da humanidade que, desde a formação dos primeiros agrupamentos humanos, demonstrou a necessidade de estabelecer regras que permitissem a convivência, sem isso a barbárie se instalaria.
Assim, foram definidas leis e estruturado o que seria o Estado e o governo e no decorrer de milênios a determinação que todos devem obedecer a lei, inclusive os governantes.
Essa evolução civilizatória também fortaleceu o sentido da ética como um valor que precisa ser enaltecido, seja nas relações entre pessoas e também entre instituições.
No mundo corporativo esse sentido evolutivo vem avançando. Hoje, cada vez mais, não se aceita que o necessário lucro deva ser alcançado sem respeitar posturas éticas.
A formulação dos princípios do ESG – estimulados pelos chamados “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, aprovados na ONU por 193 Países (incluindo o Brasil), formataram a Agenda Mundial de Desenvolvimento, determinando a união de forças em prol de uma Agenda Mundial de Desenvolvimento Sustentável, que deve ser cumprida até o ano de 2030, contemplando 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que foram desdobrados em 169 metas – é uma clara demonstração que a sociedade está exigindo atitudes de respeito ao meio ambiente; a valorização de posturas que dignifiquem as pessoas dentro e fora das instituições e a governança definindo o império da lei e o combate à corrupção, não aceitando desvios éticos.
Mais, para que seja eficaz, devemos avançar do campo das propostas para a consolidação de compromissos que resultem em efetiva mudança da realidade.
O amadurecimento da ação empresarial não pode se restringir ao formalismo sem conteúdo que aponta a missão e valores em um quadro, precisa ser exercitado, construído dia a dia, exigindo uma dimensão ética efetiva.
Vale dizer, a cultura organizacional deve evoluir, estimulando o respeito, propósitos e também as habilidades comportamentais, afastando antigos ditados como: “manda quem pode, obedece quem tem juízo” ou “bom cabrito não berra”, que devem ser substituídos por opinar para inovar e não sofrer calado injustiças ou abusos.
Nesse contexto, as empresas muito exigentes no cumprimento de metas são questionadas para criarem ambientes mais harmônicos, participativos e de atendimento às regras vigentes.
Essa é a realidade que vem se impondo no meio corporativo que deve considerar também aspectos concorrenciais. Não é admissível que uma empresa que respeite a lei, adote princípios de governança, combatendo a corrupção, pagando os impostos devidos, dispute mercado com outra que não segue as mesmas regras. A perversão do mercado é nefasta, afasta investimentos e cria um ambiente de negócios tóxico, resultando em prejuízos para toda a sociedade.
Esse contexto deve impulsionar as associações representativas dos setores produtivos, no fortalecimento dos postulados éticos pelos seus associados.
O Instituto Ética Saúde (IES), desde 2015, vem atuando no fomento de princípios e valores em um meio que exige fortemente o cumprimento de padrões de respeito à ética e à lei, em defesa dos direitos de todos que procuram as instituições de saúde, afinal estamos tratando de algo essencial: a vida.
A criação de um espaço de avaliação permanente do mercado, identificando eventuais desvios e apresentando orientações revelou um compromisso que vem se ampliando no setor de saúde, envolvendo desde indústria, importadores e distribuidores de dispositivos médicos até hospitais, planos de saúde e entidades de profissionais de medicina.
Esse é a expressão de maturidade que deve fortalecer os elos de um sistema fundamental para toda a sociedade. Ao disseminar a ética na saúde o IES cumpre uma nobre e necessária missão que vai ao encontro dos mencionados ODS da ONU.
O desafio é permanente em todas as dimensões da atividade empresarial, em verdade os cidadãos cobram transparência, seriedade e querem ser respeitados, para tanto a chamada governança corporativa deve elevar as demandas das pessoas para o centro das atenções, formatando o que denomino “governança cidadã” onde as empresas identifiquem o paciente, o consumidor, os colaboradores como protagonistas e não como detalhes no mundo dos negócios, afinal estamos sempre, em todos os momentos, tratando de pessoas. Enfim, acredito que nesse século estamos viabilizando o encontro do capitalismo com os direitos humanos, assumindo compromissos que dignificam a nossa existência.
Edson Vismona é advogado, presidente do Instituto ETCO; Fundador e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Ouvidores/Ombudsman – ABO; Foi secretário da justiça e defesa da cidadania do Estado de São Paulo e é membro do Conselho de Ética do Instituto Ética Saúde.
* A opinião manifestada é de responsabilidade do autor e não é, necessariamente, a opinião do IES
MUITO BOA A REFLEXÃO.